terça-feira, 3 de abril de 2018

confira Texto na íntegra da carta dirigida aos vereadores, que o presidente da câmara recusou-se a ler.

Texto na íntegra da carta dirigida aos vereadores, que o presidente da câmara recusou-se a ler.
À Câmara Municipal de Estiva Gerbi
Excelentíssimos Vereadores,
“O que é uma Cidade Educadora?
Uma Cidade Educadora é aquela que, para além de suas funções tradicionais, reconhece, promove e exerce um papel educador na vida dos sujeitos, assumindo como desafio permanente a formação integral de seus habitantes. Na Cidade Educadora, as diferentes políticas, espaços, tempos e atores são compreendidos como agentes pedagógicos, capazes de apoiar o desenvolvimento de todo potencial humano. [...]
[...] Rompendo com a lógica das políticas fragmentadas, as experiências em diálogo com a Cidade Educadora evocam a necessidade de articulação entre os diferentes setores do governo e da sociedade em um pacto pelo desenvolvimento humano e social. Em oposição à baixa participação, a Cidade Educadora exige a criação de mecanismos e estratégias capazes de contemplar as diferentes vozes que
compõem o território. [...]
[...] É imprescindível que as políticas em diálogo com Cidades Educadoras tenham como princípio o avanço da democracia e o aprofundamento das formas de participação social. Dos fóruns locais, passando pelos conselhos, comissões, audiências e consultas, a Cidade Educadora deve cultivar políticas públicas que ensejam um profundo compromisso com a transparência e contemplam, em todas as suas etapas – elaboração, implementação e avaliação – o engajamento da sociedade civil. Nesse contexto, destacam-se as iniciativas que fomentam a participação ainda na primeira infância, vinculando as crianças às decisões sobre o território onde vivem, a escola em que estudam, o planeta que desejam, etc.”
Senhores vereadores, senhoras vereadoras, os trechos acima fazem parte de um texto disponível no site cidadeseducadoras.org.br. Trata-se de um movimento iniciado em 1990 e que hoje já conta com a participação de 482 cidades em 36 países. Atualmente, 16 municípios compõem a Rede Brasileira de Cidades Educadoras, entre eles São Paulo, Santo André, Mauá, Embu, Belo Horizonte, Sorocaba e São Carlos.
Utilizamos estes trechos como sólido argumento para nossas reivindicações, afinal, trata-se de uma iniciativa de caráter global que vem sendo desenvolvida há 28 anos, apoiada, aqui no Brasil, por instituições como Itaú Social e Fundação Bradesco, dentre muitas.
A proposta da educação em tempo integral é interessante e motivadora. Nós, professores da rede municipal de Estiva Gerbi, em nenhum momento nos posicionamos contrariamente a ela. Porém, para que tal projeto seja executado de maneira satisfatória, é necessário diálogo entre os diversos setores da comunidade. Da mesma forma que acontece em uma família bem estruturada, na qual, diante de uma decisão importante, todos os membros são ouvidos, e suas opiniões respeitadas, o poder público deve ser o agente catalisador de ideias, de saberes, de sugestões. Uma gestão democrática, ética, comprometida como os anseios da população acolhe, ouve, responde, valoriza aquele que quer contribuir, a seu modo e de acordo com suas possibilidades, com o bem maior, o bem público.
Qualquer cidadão, se não chamado a se manifestar, tem, ao menos, direito a tomar conhecimento de como ocorrerão mudanças que afetarão sua vida. A dúvida que nos aflige é por que justamente os professores da rede nada podem saber. Evidentemente, nossas condições de trabalho e a garantia de nossos empregos também nos preocupam. Somos pais e mães de família, temos nossos compromissos financeiros, e o ano letivo já se encontra em curso. Não obstante, nosso maior zelo é com a garantia da oferta de uma educação de qualidade para os alunos, bem como de condições adequadas de trabalho para os docentes.
Sobressaltados, perguntamo-nos: por que a urgência? Por que a falta de transparência? Por que a truculência para conosco que, uma vez excluídos da discussão sobre um projeto tão impactante, nos vemos hostilizados, achincalhados, despidos de direitos fundamentais como o da liberdade de expressão, ameaçados em nosso ambiente de trabalho, aviltados por pessoas que nem sequer se dão ao trabalho de verificar a veracidade dos fatos?
Senhores vereadores e senhoras vereadoras, precisa ser assim? Um projeto dessa magnitude, dessa relevância, não deveria partir de um pacto social? Um pacto por uma Cidade Educadora? E quanto aos senhores, chegaram a refletir sobre seu papel nesse processo? Sobre suas atitudes, sobre suas responsabilidades? Procuraram se aprofundar na proposta enviada pelo Executivo? Afinal, são inúmeros os questionamentos a serem feitos, visto que os resultados de uma iniciativa como essa, que reflete no bem-estar de praticamente todas as famílias estivenses, serão duradouros...
Quanto a nós, professores comprometidos com a formação de nossos alunos, seríamos tomados de enorme satisfação se pudéssemos participar das decisões pedagógicas, fundamento principal da gestão escolar democrática, assim como de todo o processo de implantação do ensino integral de acordo com o estabelecido pelo Plano Nacional de Educação, sem prejuízo para educandos e educadores. Entretanto, uma vez alijados do debate, deveríamos, ao menos, ter direito a reivindicar acesso a informações sobre decisões que afetam diretamente nossas vidas e a de nossos familiares. E assim o fazemos. Com todo o respeito que nós também merecemos.
Cordialmente,
Professores da rede municipal de ensino.

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